domingo, 16 de fevereiro de 2020

Muito à frente

"O assunto, de facto, é irrelevante: das grávidas aos gays, dos negros aos transsexuais adolescentes, os alegados destinatários das questões “fracturantes” são invariavelmente meros pretextos para que os paladinos do progresso brilhem, besuntados de certezas inabaláveis por um terramoto.

Brilhar e, fundamentalmente, ganhar. O ideal é que as questões “fracturantes” possam ser aprovadas no parlamento, à revelia dos cidadãos por cuja autonomia esses democratas dizem combater. Se o parlamento votar contra, é escusado o pânico: repete-se a votação. Se votações repetidas não funcionarem a contento dos democratas, não há chatices: vai-se para referendo. Se o referendo não tombar para o lado que os democratas desejam, não custa nada: repete-se o referendo até vencer o resultado que convém ao país. O importante é que, no final, os paladinos do progresso consigam festejar o enxovalho dos opositores e a filha do ex-ministro do Ultramar consiga acrescentar ao bracito nova tatuagem a assinalar a proeza."

Alberto Gonçalves, Observador

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