quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Benfica

Não me lembro da primeira vez que te vi, mas sei que gostei de ti. Não sei por que razão és tão importante para mim, sei que te amo desde que me conheço. És o primeiro amor da minha vida, sempre serás, nunca perderás esse lugar. A primeira paixão é a mais forte.
Por vezes, o meu humor confunde-se com o teu sucesso. Sinto-me triste quando perdes. Também não gosto de perder. Nunca gostei. Mesmo perdendo, alegro-me quando dás tudo, quando deixas a pele em campo, quando ultrapassas os limites, quando valorizas as vitórias do adversário. 
Sou apenas mais um dos muitos que gostam de ti, guardo um bocadinho de ti dentro de mim. Não sei explicar esta paixão.
Posso trocar tudo, pode mudar de rumo, de cidade, de trabalho, de vida, mas vou sempre gostar de ti. 
Uma paixão não se explica. Vive-se. Sente-se. Consome-se, consome-nos...
Gostava de transmitir esta paixão aos meus filhos. É bom partilhar paixões com os outros que também amamos. Sei que não se sentirão enciumados, porque entenderão esta paixão que também será a deles. Pelo contrário, saberão colocar no lugar certo os sentimentos que nos caracterizam enquanto humanos. 
Há coisas mais importantes na vida, sei que sim, há coisas mais úteis, também, mas nada me faz mais feliz do que tu. Gosto de ser assim. 




terça-feira, 18 de outubro de 2016

Portugal!

Afonso bateu na mãe,
Adamastor deixou ir mais além.
Moniz foi esmagado,
Pombal estava errado. 

José muito reinou,
Sócrates nada roubou.
Sá Carneiro foi acidente,
João IV estava doente.

O Galo foi verdade,
Fátima foi milagre.
Inês morreu de paixão,
Isabel transformou o pão.

Nuno vendeu as espadas,
Salazar tinha namoradas,
A Sebastião alguém o vira,
Portugal é uma mentira!

domingo, 16 de outubro de 2016

Quadrado? Eu? Cada vez mais redondo...

"É importante haver um desprendimento e sobretudo tabelarmos as expectativas para que fiquemos gratos pelo que temos, mais do que estarmos permanentemente ansiosos para ter alguma coisa que não temos. 
Tento celebrar o que a vida já me deu e o que a vida me dá e tento sobretudo não desperdiçar as pessoas,  não deixar que as pessoas que eu gosto possam duvidar que gosto delas."

Valter Hugo Mãe 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Excitare

De manhã acordo e pareço mudo,
com falta de sono, tenho falta de tudo:
Os vidros da alma estão todos partidos,
A luz da manhã fere-me os ouvidos,
A noite foi longa ainda ouço gemidos!

Saio porta fora e fumo um café,
Sento-me no palco do Cais do Sodré:
Recebo o ardina com notícias más,
O mundo em guerra e eu sem a paz,
O azul é preto, o verde é lilás!

Depois da torrada chega a melodia,
De Chopin ou Schubert parece outro dia:
A minha cabeça já não é passado,
A raiva do mundo foi para outro lado,
Saio e pago a conta com o olhar transformado.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Só tenho um adjetivo: gostei!

"Parece que não é só impressão. Alguns estudos corroboram aquilo que sabemos: dizer palavrões é uma espécie de analgésico barato. Ou seja, fazem bem à saúde. E até podem ser sinal de que a pessoa que os usa em excesso é criativa (mas isso talvez seja puxar a corda quase até partir).

Seja como for, os palavrões são uma espécie de armas mentais: permitem-nos insultar, excitar, animar, enfurecer e, em geral, acordar toda uma série de emoções muito fortes em qualquer pessoa. Se quase todas as palavras nos fazem sentir uma ou outra emoção, os palavrões são uma espécie de injecção de adrenalina na mente."

In Doze Segredos da Língua Portuguesa, Marco Neves, Guerra & Paz, 2016. 

Para mim a explicação é simples e não eram precisos estudos nenhuns: os palavrões não passam de interjeições como "Ai! Ui! Oh! Hum!" e já deviam estar plasmados nos dicionários e gramáticas com essa classificação morfológica. 
Porém, ao contrário das interjeições citadas, os palavrões tiram a dor (mais uma vez não eram precisos estudos) e são o melhor analgésico que existe (é a minha opinião que corrobora os tais estudos), senão vejamos um caso prático. 
"Trilho um dedo numa porta." Se disser imediatamente: "foda-se!... ca-RAAA-lho!" e abanar a mão de cima para baixo várias vezes a dor passa mais depressa, dói menos. 
Caso contrário, se estiver na presença de sua excelência reverendíssima o Papa Francisco e não puder dizer "foda-se!", nem "caralho", nem "puta que pariu a porta!" e apenas disser: "bolas, aleijei-me", acreditem, a dor atormenta-nos muito mais tempo e é muito mais forte. 
Por isso, lembrem-se: os palavrões não passam de interjeições, a classe de palavras mais simples da língua portuguesa e há que saber usá-los nos momentos adequados sem cair na brejeirice nem na má criação (Cuidado!), senão perderão o valor analgésico e passarão a ser "diarreia mental".
Ah! e já agora: eu sei o que é um adjetivo. 


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Cristão Ateu

"Infelizmente acho que ainda não tenho fé. Mas por que é que eu digo infelizmente? Tenho de pensar..."

José Pedro Gomes, Actor, Revista Sábado

"Descobri que Cristo está vivo. Essa foi a grande revelação. Durante o tempo que andei no túnel, nem sabia que havia Cristo, Deus. Não percebia nada, a Santíssima Trindade para mim, era uma grande confusão. Sempre aquela sensação do Deus castigador da infância. E não é nada disso - há um Deus misericordioso."

Fernando Santos, Campeão Europeu de Futebol, Revista Sábado. 

Ultimamente tenho pensado muito neste assunto: qual é a minha posição relativamente à fé, relativamente a Deus?

Tenho fé? pouca/nenhuma.
Já tive mais? sim.
Sou de tradição católica? sim. 
Gostaria de ter mais? sim. 
Existe Deus?
Existe vida para além da morte?

Ouvi há algum tempo um programa de rádio onde um dos intervenientes se definia como um "cristão ateu". Dizia ele que era de tradição católica, que acreditava em algumas coisas (poucas), que gostaria de ter mais fé,  que compreendia os seus benefícios mas que de momento sentia muitas reservas em relação a muitos dogmas cristãos como, por exemplo, a virgindade de Maria ou a Santíssima Trindade. Não poderia estar mais de acordo. 

Uma das melhores pessoas em termos de valores humanos que conheci na vida, como designaria a minha mãe por "um coração de bondade", não tinha fé, algo que Gabriel Garcia Márquez em "O amor em Tempos de Cólera" imortalizou na frase: "Era algo mais raro - respondeu-lhe o doutor Urbino. - Um santo ateu. Mas isso, são assuntos de Deus."

Posto isto, penso que terei de trilhar o meu caminho de fé sabendo que dos dois lados da barricada existem pessoas boas e más, pessoas que valem cada segundo e pessoas que só fazem o bem a pensar que estão a fazer o mal. 

De certeza que qualquer que seja o futuro em termos de fé, ao contrário do que muitos defendem, não serei melhor nem pior pessoa. A conquista da fé poderá resolver alguns medos que tenho, como o medo da morte, mas nunca me tornará melhor pessoa. 

Mas o futuro a Deus pertence! :)
(não é esta uma frase de fé?)




sábado, 20 de agosto de 2016

Na falta de um ditador, mandam 2000.

A minha teoria é muito simples: na falta de um ditador mandam 2000. Quero com isto dizer que, depois do 25 de Abril, no nosso país mandam 2000 pessoas. 

2000 mil, 3000 mil, 4000 mil: número figurado para retratar que o nosso país é liderado por uma elite corrupta que se protege, defende, mistura... 

Registo este facto porque já igualámos 41 anos de democracia com 41 anos de ditadura. 

Porque afirmo isto?

Afirmo porque todos os dias leio/vejo/ouço nos meios de comunicação social os mesmos rostos, as mesmas famílias, os mesmos parentescos, os mesmos laços, os mesmos amigos, os mesmos discursos, as mesmas crenças, os mesmos lugares, os mesmos carros, os mesmos... as mesmas... os mesmos... 

Não raras vezes, eles próprios, os 2000 como lhe chamarei a partir daqui, se denunciam. Sou amigo de Sicrano desde a infância, sou primo de Beltrano, sou sobrinho de Fulano. Tudo às claras. 

Estudei no Técnico (um clássico). Fiz parte da Associação de Estudante na Faculdade de Direito em Coimbra (outro clássico). Pertenci à geração que desafio Américo Thomaz em Coimbra. Participei na Assembleia Constituinte. Sou administrador não executivo da Caixa, da PT, da REN, da EDP...

Maçonaria e Opus Dei? Ajuda e muito...

Tirando o mundo futebolístico onde vários "zés" se conseguem destacar e enriquecer (nem sempre bem visto), um ou outro crânio académico ou um ou outro alpinista social por casamento, os ditos 2000 são sempre os mesmos. 

Desta forma, existe em Portugal um corporativismo que perpetua os grandes e asfixia os pequenos e permite a uns quantos, reinar; enquanto o resto assiste de forma revoltada (o meu caso) ou indiferente (a maioria), mais por pobreza de espírito do que por outra coisa. (Este parágrafo tornar-me-ia comunista no Avante, coisa que não sou.)

Tudo é feito de forma a favorecer este indivíduo/instituição, a não prejudicar aquele, a proteger esta família, a não cutucar aquela. Como dizia o outro: "pomos o Moedas a trabalhar", agora Comissário Europeu.

Escrevo esta mensagem para lhes dizer que, infelizmente, o 25 de Abril falhou. As conquistas de Abril como pomposamente lhes chamam, falharam. A Democracia falhou! 

Neste país mandam os 2000. O resto é paisagem. 

PP

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Redutor, porém verdadeiro...

"O mundo está dividido entre os que cagam bem e os que cagam mal". 

In "O amor em Tempos de Cólera", Gabriel Garcia Márquez

domingo, 31 de julho de 2016

YAKAMOZ (reflexo da lua na água) - A palavra mais bonita do mundo?


Por Delicadeza

"Bailarina fui
Mas nunca dançei
Em frente das grades
Só três passos dei

Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dançei no avesso
Do tempo bailado

Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei

Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado

Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei

Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi:

«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida"


Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Não bulas aí!

Não bulas aí! foi uma das frases mais ouvidas na minha infância. Talvez porque mexia em tudo, porque era demasiado irrequieto, porque era reguila (mais uma bela palavra), porque não dava descanso aos adultos, porque era feliz...
 
Sim, fui muito feliz.
 
Talvez por isso, se calhar por isso, a forma como encaro a vida pretende perpetuar essa condição, esse estado, esse momento.

Fui, sou, serei sempre criança.
Fui, sou, serei sempre feliz.

domingo, 24 de julho de 2016

A trabalhar nisto todos os dias.

"A sociedade só pode interferir na liberdade de uma pessoa quando há o risco  de essa pessoa provocar danos noutra. De resto, não deve haver interferências, por bizarras que sejam as crenças de cada um."

In O Pavilhão Púrpura, José Rodrigues dos Santos, Gradiva, 2016

César Menotti

"Sabes a diferença entre um cão de guarda e um cão feroz? Não? Repara. Está o cão feroz à porta de casa e surgem dois ladrões. Um aproxima-se, o cão feroz ladra e atira-se a ele.  O ladrão foge e o cão vai atrás dele, abandonando a porta. Entra o outro ladrão e rouba o que quer. Ao invés, o cão de guarda apenas ladra e mantém à distância qualquer dos ladrões, nunca saindo de perto da porta. O cão de guarda marca à zona e o feroz marca ao homem. Entendido?" Consta-se que o  jogador em causa concluiu simplesmente que "havia um cão bom e outro mau", e que nesse dia deixou de contar para Menotti.

In Futebol a Sério, Carlos Daniel, A Esfera dos Livros, 2016. 

http://www.alambrado.net/antes-da-fama-el-flaco-menotti-foi-um-moleque-travesso