segunda-feira, 16 de julho de 2018

Sapiens

Choro muitas vezes
Das vezes em que não me ri,
Quando o devia ter feito,
Por vergonha.
Acreditei que o riso fosse
Uma provocação, um abismo.
Uma negação do infinito,
Que está escrito.
Das vezes em que,
Alienado, não me ri,
Dos disparates que faço...
Das palavras que não controlo,
Que podem ser grandes e pequenas,
Em sentido,
Sofrido,
Como o que tenho vivido.
Das vezes em que me esqueço
Que sou um pormenor
Do tempo e do espaço
E que alguém,
Superior,
Ominisciente e Omnipresente,
Brinca comigo.
Me dá a luz.
Me faz acreditar que sou,
O que não sou.
Me chama, quando quer.
Como um carteiro, 
Que toca à campainha,
Abruptamente.
E que se diverte,
Com um humor pueril,
A ver-me repudiar a minha condição
Da forma menos honesta e menos colorida,
Como a terra é comida.
Das vezes em que,
Como se eu fosse uma marioneta,
Com os fios atados aos dedos,
Me move e me faz entrar e sair de cena,
A seu bel-prazer.
Das vezes em que, sem razão aparente,
Me pesa os sentimentos,
Me envelhece em passado, 
Me subtrai em bondade,
E me faz respirar
O ar frio com pulmões de
Verdade: nua, crua, dura, sua,
E rasga o futuro
Com mãos de veludo
Até ao início
Da festa.

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