sábado, 4 de janeiro de 2020

Vergonha

"Pela calada da noite (ou do dia, não sei), indivíduos sem escrúpulos nem sensibilidade pintaram nas ferragens as palavras “vergonha”, “os nossos impostos”, “política de merda” e “300 mil euros”. Domingo último, o país acordou chocado, metade pelo acto delinquente, metade pelos preços que os serralheiros praticam hoje em dia. A autarca local, que sinceramente não sei quem é, assinou no Facebook um texto em que defende a “responsabilidade do Estado” no “acesso da classe média e baixa” [sic] à “cultura”. O sr. Cabrita Reis, homem de esquerda, fez uma pausa na contagem das notas subtraídas à ralé para afirmar ao “Público” que o ataque ao “conjunto escultórico” é uma “manifestação provocatória de arruaceiros de extrema-direita”. Certo é que o incidente popularizou a peça e, num ápice, instalou-se a tradicional discussão sobre arte contemporânea, que opõe os filisteus que não a compreendem aos que temem ser tomados por filisteus e fingem compreendê-la."

Alberto Gonçalves, Observador 

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