"O populismo caracteriza-se, entre outras coisas, por amalgamar realidades distintas, fornecendo ao mesmo tempo a aparência de uma explicação única que tudo engloba. O ecopopulismo não é excepção a esta regra geral. Tudo se encontra magicamente ligado. E, como tudo se encontra magicamente ligado, o corte com o presente que reivindica tem de ser radical. Greta Thunberg, a nova sacerdotisa do ecopopulismo – o sumo sacerdote Al Gore já deu o que tinha a dar -, recebida entusiasticamente em Lisboa por meia-dúzia de pessoas e uma cobertura mediática nunca vista, exprimiu recentemente, num artigo publicado em conjunto com duas colegas que também faltam às aulas, este aspecto do credo ecopopulista: a “crise climática” foi “criada e alimentada” pelos “sistemas de opressão coloniais, racistas e patriarcais”, “temos de os demolir todos”.
Dir-se-á que comparar as atitudes presentes com os pavores do fim do primeiro milénio é fugir a qualquer discussão séria das questões postas pelos males infligidos pelos seres humanos ao ambiente do planeta, como por exemplo a de Judith A. Curry, em Alterações climáticas. O que sabemos, o que não sabemos, publicada entre nós pela Guerra e Paz. Mas não era disso que falava: falava do ecopopulismo posto em voga pela Igreja Universal da Climatologia, que justamente representa a mais formidável barreira para que a tal discussão séria tenha lugar. Uma barreira tão extraordinária que, para explicar a infantilização do espírito que produz, apetece recorrer a uma conjectura arriscada, como manda a sábia metodologia científica: só as alterações climáticas poderiam efectivamente dar lugar a tal monstruoso efeito regressivo na mente humana. Tal conjectura parece cumprir os requisitos das boas hipóteses: simplicidade, beleza, fecundidade. Até a “Carta a Greta” do ministro Matos Fernandes se compreende melhor assim."
Paulo Tunhas, Observador
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