segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Talvez

Contudo, há que saber disfarçar bem essa faceta e ser grande simulador e dissimulador: os homens são tão ingénuos e tão conformados com as necessidades presentes que quem engana encontrará sempre quem se deixe enganar.

O príncipe, Maquiavel 

XVI

Daí nasce um dilema: será melhor ser amado ou temido ou o inverso? Responderei dizendo que seria desejável ser ambas as coisas; mas, como é difícil conciliá-las, é muito mais seguro ser temido do que amado, se só se puder ser uma delas.


O príncipe, Maquiavel 

domingo, 24 de novembro de 2024

Príncipe

Vamais houve homem menos maquiavélico do que Maquiavel. 

Villari

Eu

como a de Cipião quando disse haver no Senado romano "muitos homens que sabiam melhor não errar do que corrigir os erros".

Cipião 

sábado, 9 de novembro de 2024

São muita bons

Ultimamente tenho andado a pensar na diferença entre as virtudes de currículo e as virtudes de elogio fúnebre. As virtudes de currículo são as que enumera no seu currículo, as competências que traz para o mercado de trabalho e que contribuem para o sucesso externo. As virtudes de elogio fúnebre são mais profundas. São as virtudes mencionadas no seu funeral, aquelas que existem no âmago do seu ser se foi bondoso, corajoso, honesto ou fiel, o tipo de relações que criou.

A maioria das pessoas considera que as virtudes de elogio fúnebre são mais importantes do que as de currículo, mas confesso que durante grande parte da minha vida passei mais tempo a pensar nas segundas virtudes do que nas primeiras. O nosso sistema de ensino centra-se claramente mais nas virtudes de currículo do que nas de elogio fúnebre. O mesmo se passa com o discurso público as dicas de autoajuda nas revistas, os livros de não-ficção mais vendidos. A maioria das pessoas tem estratégias mais definidas para alcançar o sucesso profissional do que para desenvolver um caráter profundo.

O Caminho para o Carácter, David Brooks

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Dois conselhos que ouvi hoje;

"Nunca cometas o mesmo erro duas vezes.

Não fiques na cama todo o dia a menos que ganhes dinheiro com isso."

Preocupante!

O físico britânico Stephen Hawking defende que temos apenas um século à nossa frente para encontrar um novo planeta onde possamos viver, se quisermos que a espécie humana sobreviva (...). São vários os factores que nos obrigarão a essa busca se quisermos sobreviver: alterações climáticas, a possibilidade de queda de um asteróide no planeta, epidemias e crescimento da população.

"Acredito piamente que devemos começar a procurar possíveis alternativas para se viver. Estamos a ficar sem espaço no planeta Terra. Precisamos de acabar com as limitações tecnológicas que nos impeçam de viver num outro lugar no Universo. Não sou o único com esta visão e muitos dos meus colegas irão falar sobre o tema no próximo mês, no Starmus", disse, referindo-se ao Starmus IV Festival, que se realiza na Noruega.

Gaia!

Onde é que eu ja ouvi isto?

"Aos 10 anos, (Mário Soares) fez o exame da quarta classe em Leiria, quando estudava nas Caldas da Rainha ao cuidado de uma família amiga e reprovou. Mas já então teve sorte: as notas tinham sido tão, mas por todo o País, que os critérios nacionais foram revistos e acabou por ser admitido no Liceu."

Revista Sábado

Este post é para ti...

"Na verdade, se o espectador quiser fruir de uma obra de arte optando por ouvir o autor sobre ela, não há motivo para não o fazer, assim como tem a liberdade de prescindir da intencionalidade do criador."

A boneca de kokoschka, Afonso Cruz

Sei que ela não vai ler hoje, com sorte, talvez amanhã. Estará ocupada a ajudar alguém?

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Limdo

O gato criou Deus e criou o homem para dar a estes, entretidos um com o outro, a possibilidade de o deixarem em paz.


Rui Caeiro 

Pensar

Mercearias e centros comerciais, sacristias e hipermercados - tudo lugares onde a morte está à venda, civilizadamente e a preços módicos. Qualquer morte - seus produtos, marcas e derivados.

Rui Caeiro

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Assim

Para Victor Hugo, Deus criou o gato para dar a conhecer ao homem a sensação de acariciar um tigre.

Prefiro pensar: o gato criou Deus e criou o homem para dar a estes, entretidos um com o outro, a possibilidade de o deixarem em paz.

Rui Caeiro

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Preguiça

Dormir ao sol, ser o dono de uma pequena ilha ao sol. Governá-la é dominar o mundo, nada fazer. 

Rui Caeiro

Bois

O que me atrai não é tanto a força ou a paciência mas aquele seu jeito único de olhar, com alguma atenção, com alguma demora, para os palácios


Rui Caeiro 

Galinhas

De tanto conviverem com os homens

foram ficando, estranho fenómeno 

estúpidas que nem galinhas


Rui Caeiro 

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Rui Caeiro

 UMA ORAÇÃO

Senhor que tudo sabes e podes e nada fazes e ainda bem livrai-nos das prostitutas mais irresistíveis e dos padres que tudo perdoam e dos poetas que têm missão a cumprir mas principalmente livra os outros livra todos os outros dos inúteis sonhadores pretensiosos inveterados bêbados como Tu e eu

sábado, 12 de outubro de 2024

Ups

Por vontade da sua mãe, Lovelace cresceu a estudar ciência e matemática. Estes eram assuntos sensatos, distantes da influência perturbadora da poesia e da literatura. 

Poemas que resolvem problemas, Chris Bleakley

Força

Durante seis dias e sete noites 

O vento soprou, dilúvio e tempestade encheram a terra; 

Quando o sétimo dia chegou, a tempestade, o dilúvio e a tormenta,

Depois de lutarem como uma mulher em trabalho de parto, extinguiram-se. 

O mar acalmou, o vento imhullu amainou, o dilúvio recuou.


Autor desconhecido, tradução para inglês de Stephanie Dalley

Épico de Gilgamesh, circa 2000 A. E. С.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Liberdade

Porque sei também

há quem espere a visita da liberdade

há quem não espere a visita da liberdade

há quem ponha a liberdade fora de casa

três espécies de gente que há-de ser julgada pela própria

liberdade

todos pavões das artes e das letras

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Ganho

A ideia da leitura como perda, mais do que a leitura como ganho, é uma mola psicológica essencial para se definirem estratégias eficazes, a fim de se livrarem de situações penosas com as quais a existência nos confronta, situações essas pelas quais já é tempo de nos interessarmos, depois de definirmos os diferentes tipos de não-leitura, e que a ideia de leitura como perda se concretize depois de ter passado os olhos pelos livros, através de um processo de aceitação ou de um esquecimento progressivo.


Como falar dos livros que não lemos, Pierre Bayard

sábado, 7 de setembro de 2024

Difícil

A vida de todas as nascentes profundas decorre com vagar, têm de esperar muito tempo antes de saber o que caiu nas suas profundezas. Tudo o que é grande foge da praça pública e da fama: é longe da praça e da fama que sempre viveram os inventores de novos valores. Foge, meu amigo, refugia-te na tua solidão! Vejo-te aguilhoado pelas moscas venenosas. Refugia-te onde sopre ume vento rijo e forte!

Nietzsche 

Olha outro

Os meios de que Júlio César se serviu para se defender das doenças e das dores de cabeça: grandes caminhadas, um modo de vida simplíssimo, permanência constante ao ar livre, fadigas contínuas, estas são, em grandes traços, as regras de conserva- ção e defesa geral contra a extrema vulnerabilidade dessa máquina subtil, e que trabalha a uma altíssima pressão, chamada génio.

Crepúsculo dos Ídolos, Nietzsche 

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

A comédia do ambicioso

Um homem que aspira a coisas grandes considera todo aquele que encontras no seu caminho, ou como meio, ou como retardamento ou impedimento ou como um leito de repouso passageiro. A sua bondade para com os outros, que o caracteriza e que é superior, só é possível quando ele atinge o seu máximo e domina. A impaciência e a sua consciência de, até aqui, estar sempre condenado à comédia - pois mesmo a guerra é uma comédia e encobre, como qualquer meio encobre, o fim-, estraga-lhe todo o convívio: esta espécie de homem conhece a solidão e o que ela tem de mais venenoso.

Para Além do Bem e do Mal, Nietzsche 

Escola

É difícil viver com as pessoas porque calar é muito difícil. 

Nietzsche 

Eu também

Não gosto daqueles que se comportam bem por medo de ir para o inferno. Prefiro os que se comportam bem porque gostam de se comportar bem. Não gosto daqueles que são bons para agradar a Deus. Prefiro os que são bons porque na realidade são bons. Não gosto de respeitar os meus semelhantes porque são filhos de Deus. Apraz-me respeitá-los porque são seres que sentem e sofrem. Não gosto de quem se dedica ao próximo e cultiva a justiça pensando, deste modo, agradar a Deus. Gosto de quem se dedica ao próximo porque sente amor e compaixão pelas pessoas.


Há lugares no Mundo onde a gentileza é mais importante do que as regras, Carlo Rovelli 

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Sim

A poesia e a ciência são criações do espírito que possibilitam novas maneiras de pensar o mundo para o compreendermos melhor. A grande ciência e a grande poesia são ambas visionárias e, por vezes, podem chegar às mesmas intuições. A cultura hodierna que cava um fosso entre ciência e poesia é, a meu ver, insensata, porque se torna míope para a complexidade e a beleza do mundo que ambas revelam.

Carlo Rovelli

Saturno

Nunca e sempre

Amor ou solidão 

Preto e branco

Cara ou coroa

Orgulho e passado

Desastre ou morte

Força e trabalho 

Cansaço ou despedida

E a vida

Com ou sem ti.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Nuno Rocha Morais

Reconheceram-no apenas pela mão

Esfacelada anos antes num duelo,

Despedaçado e decapitado 

Por uma turba em fúria - 

Talvez lhe tenham vazado os olhos, 

Mesmo depois de morto, 

Para que nada escrevesse de quanto viu.

Um poeta, portanto.

Difícil

Dizia o João Cabral que se morre da morte que ela quer, mas (...) não vejo por que é que o valor da vida há-de continuar a prevalecer sobre o valor de uma morte serena e sem sofrimento.

Lembro-me muitas vezes do epitáfio do Sena ao Casais Monteiro, em que se perguntava: «Como se morre, Adolfo?». Vejo agora que é assim.

Oxalá possamos dizer boa noite assim, tão sem ressentimento contra a morte, contra vida.

O importante é não azedar, dar o troco com um sorriso...


Nuno Rocha Morais

Fanatismo

É a única forma de força de vontade acessível aos fracos. 

Nietzsche 

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Direito

A nobreza de alma reconhece-se, em parte, pelo modo orgulhoso e magnífico como ela ataca: sempre a direito.

Friedrich Nietzsche 

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Uma Oração

Senhor que tudo sabes e podes e 

nada fazes e ainda bem 

livrai-nos das prostitutas mais irresistíveis 

e dos padres que tudo perdoam 

e dos poetas que têm missão a cumprir 

mas principalmente livra os outros 

dos inúteis sonhadores pretensiosos 

inveterados bêbados como Tu e eu


Rui Caeiro 

Rui Caeiro

Pois morre-se de muita coisa, de muita coisa se morre, morre-se por tudo e por nada morre-se sempre muito 

sábado, 27 de julho de 2024

Fernando Madureira - Poeta

Poisas os braços cansados 

sentes teu corpo dormente 

teu olhar ruma vazio 

não sei por que oriente.


Teu cabelo encrespado 

fica rebelde no tempo 

tua boca por semear 

semeia desejos de vento.


Teu peito por abraçar 

regressa a casa vazio 

regressa a casa, somente. 

E mesmo com tanto frio 

és flor e és semente.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Kafka

Não desesperes, nem sequer por não desesperares. Quando já tudo parece ter chegado ao fim, novas forças avançam, o que significa que estás vivo.

Ainda consigo sentir um contentamento ocasional com traba- lhos como «Um Médico de Aldeia» [...], mas só sinto felicidade quando consigo elevar o mundo à pureza, à verdade, à imutabilidade.

Grande chuvada. Oferece-te à chuva, deixa-te atravessar pelas fortes bátegas, desliza na água que te quer arrastar, mas mantém-te e espera assim, de pé, o Sol que há de brilhar com os seus raios infindos.

Seis

Poesia não é apenas uma espécie de música composta por syllabas, mas também, e principalmente, o esforço silencioso no caminho de Deus.

Ao ouvido do Moribundo, Antologia Desesperada da Poesia Portuguesa, Barahona

sábado, 20 de julho de 2024

Pedro Oom

A POESIA não necessita de «ser salva» porque o que nós entendemos por poesia não necessita de espécie alguma de salvação. Todo o acto de revolta ou de rebeldia, todo o processo de violentar «a natureza» e de desconhecer o direito e a moral é para nós poesia embora não se plasme, não se fixe, não se possa generalizar e aquí está, implícita, a recusa terminante de amarrar o poeta a uma técnica, seja ela qual for, mesmo a mais actual, a mais oportuna, porque, precisamente, o que o distingue do homem de técnica é um sentido de não oportunidade, de inoportunidade, que lhe advêm de uma clarividência total e duma insubmissão permanente ante os conceitos, regras e princípios estabelecidos. Com isto não queremos dizer (Deus nos livre!) que o poeta seja um louco, um visionário, mas que, se ele tem de possuir uma estética e uma moral é, sem sombra de dúvida, uma estética e uma moral próprias.

A poesia é um meio de conhecimento e acção de cujos frutos, bons ou maus, só o poeta aproveita (facto, este, de que muito poucos se dão conta) e daí a inutilidade dos esforços para ligá-lo a qualquer filosofia, política ou teologia, inutilidade que se não desmente no caso de ser o próprio poeta a tentar essa aproximação. É (foi) o caso de Régio como o de Mayakovsky: a sua voz continuará estranha e o sentido das suas palavras incompreensível mesmo para aqueles que escolheu como amigos ou correligionários. É que o poeta é rebelde sem premeditação, frio, esforçadamente -de-pistola-em-punho ou anti-caridade-encostada-as-esquinas-caneta-na-mão-lágrima-de-jacaré, Daí que resultem contraditórios os termos de poeta católico, marxista, surrealista, existencialista, anarquista ou socialista, quando não se desconhece que só ao poeta é dado compreender o poeta. Daí que resultem ridículas as homenagens colarinho-alto ou selecta-de-infância com que é costume, aqui e lá fora, enfaixar o cadáver daqueles que como Fernando Pessoa, Rimbaud ou Gomes Leal foram em vida o mais esforçado testemunho contra o bom-senso-não-dei- tes-a-língua-de-fora.boontainebreir

O que possa haver de menos compreensível em tudo isto resulta do facto de que toda a explicação necessita de uma outra explicação para ser compreendida. Aquilo que de um modo imediato é para nós verdadeiro só será inteligível para outrem depois de uma determinada «mastigação» durante cujo processo já todo o objecto em causa adquiriu nova cor, nova forma, novo ou novos sentidos de interpretação. O poeta tem a clarividência desta transformação e daí a sua atitude, sempre de recusa a qualquer espécie de imposição, e ainda quando nos parece que um dos seus gestos adquire uma cor mais conformista, ou um tom menos violento, ele não é mais do que uma forma diferente de recusa.

1949

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Simples

Revia o falhanço da humanidade pelo estilo de vida social dos cães: «Cheira cu, cheira piça, olá-como-está?, cheira rabo, cheira cona: eh pá, isto é que é vida! E não fazem mal a ninguém.

Ao ouvido do Moribundo, Antologia Desesperada da Poesia Portuguesa - Língua Morta


Cânone

Ora aí o tendes: o cânone é um bolero, como o de Ravel. É sempre a mesma merda: tamborilamos a caixa de cor até uma certa exaustão das coisas; e assim me escuso a explicar o título de cima.

Ao ouvido do Moribundo, Nuno dos Santos Sousa 

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Pois

O constante atrito entre mentes tacanhas pode acabar por roer as melhores resoluções dos homens mais generosos.

Bartleby, O Escrivão, Herman Melville 

domingo, 14 de julho de 2024

Nietzsche

Como seria, se um dia ou uma noite, um demónio impercetivelmente se arrastasse até à sua mais isolada solidão e lhe dissesse: "Esta vida, tal como a vives agora e tens vivido, terás de vivê-la novamente inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, mas sim hão-de voltar cada dor e cada prazer, e cada pensamento e suspiro, e tudo o que é indizivelmente pequeno e grande na tua vida, e tudo na mesma ordem e sequência, e de igual modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência está sempre de novo a ser virada, e tu com ela, ínfimo grão de pó da poeira!" - Não se lançaria ao chão, rangendo os dentes e amaldiçoando o demónio que assim falava?

Ou experimentou alguma vez um portentoso instante, em que lhe responderia: "Tu és um deus e eu nunca ouvi nada de mais divino!" Se este pensamento o dominasse, tal como é, transformá-lo-ia talvez, mas talvez o aniquilasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?" (...)

sábado, 13 de julho de 2024

Top

Deste modo, a criança resiliente é aquela que é alimentada pelo amor dos seus pais e que, graças a esse amor, consegue manter intacta a sua harmonia emocional num mundo onde o stress está sempre presente, e que um dia foi convidada por um louco sonhador e poeta a imaginar mundos possíveis, a acreditar na beleza do mistério da vida e a conquistar a verdadeira liberdade, que consiste em descobrir no seu interior esse sopro subtil chamado alma.

Educar as Emoções, Amanda Céspedes 

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Beckett

Na aprendizagem, não há lugar para o fracasso porque os erros são um modo de aprender que é tanto ou mais válido do que os acertos.

Educar as emoções, Amanda Céspedes

terça-feira, 2 de julho de 2024

Pois

Na Idade Média, o rompimento da palavra dada era coisa gravíssima, que acarretava a quebra da dignidade, a perda da honra e a ignomínia para o autor de tal malfeitoria.

Episódios da História de Portugal, Ricardo Raimundo 

terça-feira, 25 de junho de 2024

Vinte e cinco

Porque sei também
há quem espere a visita da liberdade
há quem não espere a visita da liberdade
há quem ponha a liberdade fora de casa
três espécies de gente que há-de ser julgada pela própria liberdade

António José Forte 

Verdade

Não estar morto não quer forçadamente dizer que se esteja vivo, como não escrever não equivale sempre a ser analfabeto.

António José Forte 

O mais belo espectáculo de horror somos nós

Este rosto com que amamos, com que morremos, não é nosso; nem estas cicatrizes frescas todas as manhãs, nem estas palavras que envelhecem no curto espaço de um dia A noite recebe as nossas mãos como se fossem intrusas, como se o seu reino não fosse pertença delas, invenção delas. Só a custo, perigosamente, os nossos sonhos largam a pele e aparecem à luz diurna e implacável. A nossa miséria vive entre as quatro paredes, cada vez mais apertadas, do nosso desespero. E essa miséria, ela sim verdadeiramente nossa, não encontra maneira de estoirar as paredes. Emparedados, sem possibilidade de comunicação, limitados no nosso ódio e no nosso amor, assim vivemos. Procuramos a saída - a real, a única - e damos com a cabeça nas paredes. Há então os que ganham a ira, os que perdem o amor.

António José Forte 

O mínimo

Se não temos saúde bastante sejamos pelo menos doentes exemplares. 

António José Forte 

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Coisas

Havia quem se suicidasse escrevendo um poema, como havia quem se suicidasse olhando simplesmente para o mar.

António José Forte 

sexta-feira, 21 de junho de 2024

António José Forte

"Há (...) gente que nunca escreveu uma linha que fez mais pela palavra que toda uma geração de escritores." Mas foi porventura necessário escrevê-lo para ser mais verdadeiro.

Herberto Hélder 

Tenho dito

Um grande poeta nunca se furta à degradação interposta. 

Herberto Hélder 

segunda-feira, 17 de junho de 2024

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Top

Sem os livros, as melhores coisas do mundo tinham caído no esquecimento. 

O infinito num junco, Irene Vallejo 

Maroto

Um remoto pompeiano escreveu na parede de uma taberna: "Eu fodi a dona."

O infinito num junco, Irene Vallejo 

Sim

Como escreveu Hannah Arendt, «O passado não leva para trás, mas sim impulsiona para a frente e, ao contrário do que se poderia esperar, é o futuro que nos conduz para o passado».

terça-feira, 11 de junho de 2024

Há XX séculos.

"Prefiro uma amante que tenha ultrapassado os trinta e cinco anos e já tenha cabelos grisalhos na sua melena: que os apressados bebam o vinho novo; eu gosto mais de uma mulher madura que conheça o seu prazer. Tem experiência, que constitui todo o talento, e conhece mil posições no amor. A voluptuosidade nela não é falsa. E, quando a mulher goza ao mesmo tempo que o seu amante, é o cúmulo do prazer. Odeio o abraço em que um e outra não se entregam inteiramente. Odeio essas uniões que não deixam os dois exaustos. Odeio uma mulher que se entrega porque tem de fazê-lo, que não se humedece, que pensa nas suas tarefas. Não quero uma mulher que me dê prazer por dever. Que nenhuma mulher faça amor comigo por obrigação! Gosto que a sua voz traduza a sua alegria, que murmure que é preciso ir mais devagar, que ainda me devo conter. Gosto de ver a minha amante a usufruir com os olhos vencidos e que desfaleça e não permita que a acaricie mais."


Ovídio

domingo, 19 de maio de 2024

Guerra

Quando um livro arde, quando um livro é destruído, quando um livro morre há algo em nós próprios que se mutila irremediavelmente. Quando um livro arde, morrem todas as vidas que o tornaram possível. Todas as vidas contidas nele e todas as vidas ås quais esse livro teria podido dar, no futuro, calor e conhecimentos, inteligência, desfrute e esperança. Destruir um livro é, literalmente, assassinar a alma do homem.


Irene Vallejo, O Infinito num Junco

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Circunstância

Circunstância 


Depois 

de tudo 

o que me deste e dás, 

suponho 

que serei sempre 

teu 

amigo. 


pp

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Eu também

Acho que os livros descrevem as pessoas que os têm entre as mãos.

Irene Vallejo, O infinito num junco 

terça-feira, 7 de maio de 2024

É isto.

Portugal 


Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse

oitocentos

Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de

África

só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais

e nunca mais voltasse

Quase chego a pensar que é tudo uma mentira

que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney

e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente

Portugal

Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional

(que os meus egrégios avós me perdoem)

Ontem estive a jogar poker com o velho do Restelo

Anda na consulta externa do Júlio de Matos

Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar

àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de

rosas

Portugal

Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do

Império

mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado

Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pérola que fosse

das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador

Portugal

Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém

Sabes

Estou loucamente apaixonado por ti

Pergunto a mim mesmo

Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu

mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentugal

e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade

Portugal estás a ouvir-me?

Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada

de ressentimentos

um dia bebi vinagre nada de ressentimentos

Portugal

Sabes de que cor são os meus olhos?

São castanhos como os da minha mãe

Portugal

gostava de te beijar muito apaixonadamente

na boca


Jorge Sousa Braga, De Manhã Vamos Todos Acordar com uma Pérola no Cu


O livro é sobre

o modo como a televisão estava a destruir "o nosso interesse pela leitura e pela literatura" e a "transformar as pessoas em imbecis" ("It is about people being turned into morons by TV").

Fahrenheit 451, Ray Gradbury 

Estamos em 1953...

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Malucos

Dê-se a um homem um par de versos e ele julgará que é o Deus da Criação, que pode andar sobre água graças aos livros.


Fahrenheit 451, Ray Gradbury 

sábado, 4 de maio de 2024

Certo

Os livros eram apenas um tipo de receptáculo em que guardávamos as coisas que tínhamos medo de perder. Em si mesmos, nada têm de mágico. A magia está no que eles nos dizem, em como nos apresentam uma única peça feita da costura de vários bocados do universo. É claro que não poderia saber isto, é claro que ainda não entende o que quero dizer com tudo isto. Mas, intuitivamente, está no caminho certo, e é isso que conta.


Fahrenheit 451, Ray Gradbury

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Ilha maior

Cada vez mais, o conhecimento de cada um seria um arquipélago mínimo no incomensurável oceano da sua ignorância.


O infinito num junco, Irene Vallejo

terça-feira, 16 de abril de 2024

Bem visto

O alfabeto foi uma tecnologia ainda mais revolucionária do que a Internet. Construiu pela primeira vez essa memória comum, expandida e ao alcance de toda a gente.

O infinito num junco, Irene Vallejo 

Eureka

Borges, que pertencia ao grupo dos que pensam da segunda forma, escreveu: «Dos diversos instrumentos do homem, o mais surpreendente é, sem dúvida, o livro. Os restantes são extensões do seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da sua visão; o telefone é a extensão da voz; depois temos o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

O infinito num junco, Irene Vallejo 

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Me too

Cresci, mas continuo a manter uma relação muito narcisista com os livros. Quando um relato me invade, quando a sua chuva de palavras penetra em mim, quando compreendo de forma quase dolorosa o que conta, quando tenho a segurança - íntima, solitária - de que o seu autor mudou a minha vida, volto a acreditar que eu, especialmente eu, sou a leitora de quem esse livro andava à procura.

O infinito num junco, Irene Vallejo 

Poesia

No seu esforço para se perpetuarem, os habitantes do mundo oral aperceberam-se de que a linguagem rítmica é mais fácil de recordar, e foi nas asas dessa descoberta que nasceu a poesia. Ao recitar versos, a melodia das palavras ajuda a repetir o texto sem alterá-lo, porque a música se quebra quando a sequência falha.

O infinito num junco, Irene Jalejo

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Tontos

Na verdade, seria preciso agradecer a existência de pessoas ambiciosas centradas na luta pelo poder; caso contrário, teríamos de ser nós a carregar esse fardo.

Alguém falou sobre nós, Irene Vallejo 

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Humberto Eco

O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não se pode fazer melhor.

Gosto muito

O arrasto que trago de sombra é um galho
postiço
não sei como o provar
mas se esta sombra fosse a minha
ensombraria
para dentro
 
 
pedro de queirós tavares

quarta-feira, 27 de março de 2024

Pequenos Desenhos

Tudo aquilo parecem desenhos,

Mas dentro das letras estão vozes. 

Cada página é uma caixa infinita de vozes.


Mia Couto, Mulheres de Cinza

Li agora

Na mitologia grega, a atenção e o cuidado dos doentes estavam encomendados às mãos femininas de duas atenciosas deusas, filhas de Asclépio, o deus da medicina: Hígia e Panaceia. A primeira tratava da limpeza e da saúde humana, por isso legou o seu nome à higiene; a segunda conhecia os medicamentos elaborados com plantas e o seu nome aplica-se aos remédios universais. A enfermaria atual, herdeira do trabalho das filhas de Asclépio, é um ofício que contém conhecimentos técnicos sobre prevenção, higiene e tratamento. Nos últimos anos, dentro da profissão, começou a reivindicar-se o valor dos "cuidados invisíveis", aqueles gestos que não ficam anotados em nenhum registo médico, que não são aparentemente clínicos, como as carícias, o sorriso ou as palavras reconfortantes, mas que, sabemo-lo hoje, têm uma grande importância na cura das nossas doenças. Essa atenção que, embora não conste, conta.


Alguém falou sobre nós, Irene Vallejo 

Abril

Abril


Era o medo

A ilusão 

Era a senha 

Na canção


Era o plano

Combinado

Era o regime

Acabado 


Era o estigma

Na penumbra

Era a esperança

Mais profunda


Era a pobreza

A desobediência 

É a pide

A indigência.


É já dia 

Alvorada

É revolta

Iniciada


É surpresa

É verdade

É certeza 

É liberdade 


É regime

Acabado 

E o povo

Foi vingado.


Foi o coração 

Combinado

Foi o abraço 

Apertado 


Foi a festa

Foi a alegria 

Foi a multidão 

Foi o dia


Foram vinte

Foram cinco

Foram mais

Não te minto


Foram beijos

Mais que mil

Foram cravos

Foi Abril.


terça-feira, 26 de março de 2024

Tácito

"... a maior parte dos seres humanos não suporta nem uma grande liberdade nem uma grande submissão. É que a submissão limita-nos, mas a liberdade revela-nos as nossas limitações."


segunda-feira, 25 de março de 2024

Vinte séculos

Os livros fazem os lábios. 

Quintiliano 

Assino

"Ora o público não compreende ideias complexas. É preciso dar-lhe só ideias simples, generalidades vagas, isto é, mentiras, ainda que partindo de verdades; pois dar como simples o que é complexo, dar sem distinção o que cumpre distinguir, ser geral onde importa particularizar, para definir, e ser vago em matéria onde o que vale é a precisão — tudo isto importa em mentir."

Fernando Pessoa 

domingo, 24 de março de 2024

A bola

Haverá sempre outros entretenimentos mais fáceis e baratos do que a arte. Mas o futuro da criação está nas mãos de um tipo de público muito especial, que procura sem complexos formas mais complexas de diversão.

Alguém falou sobre nós, Irene Vallejo

quarta-feira, 13 de março de 2024

Não

Se pudéssemos ligar-nos a uma máquina que nos garantisse que todas as nossas experiências seriam de prazer, será que eu faríamos?

O poder das palavras, Mariano Sigman

domingo, 3 de março de 2024

Inteligente

Os Aimarás colocam o passado à frente e o futuro atrás. O passado é o que se conhece e o futuro é o que não se conhece, por isso fica atrás. Falamos da direção das mãos. 


Plihmn

A palavra certa é a nossa mais inextinguível fonte de magia. 

Dumbledore

Distorção da perspectiva

Quando nos pedem para que juremos em tribunal em dizer "toda a verdade", estão a pedir-nos o impossível.

Carl Sagan

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Porta Chaves

Saudosista
Coração quente
Quero dizer-te 
Agora
que os meus olhos estão e são bons
E que os lugares comuns já tos disse 
Muitas vezes

Sou bom a carregar o ego
O teu e o meu
Dos nossos
Original, diferente
Sem contraditório
Hoje
Revelo que:

És Pedra da tua, nossa família
Dura, forte, consistente e perene que
Não deixa entrar ou sair o tempo

És Porta, aberta, para quem
te rodeia, com simpatia e bondade
e palavras de paz, sabão e luz

Chave, única e irrepetível,
Que faz a sua função acordada
Com particular simplicidade e
confiança 

Espelho que brilha
e revela nos outros 
a sua melhorar performance

Sorriso com sorte e generoso
Limpo e nu atado
No rosto de papel e cristal

Anel que rodeia e significa
Todos os sonhos e medos
Sucessos e abraços

Copo cheio de atalhos e sensatez
Por dentro e por fora
Que sufoca a abraça

Linha que separa e preenche
Com remendos a tua nossa
Solidão do infinito 

Pedra, porta, chave, espelho, 
Sorriso, anel, copo e linha
És tu e não sabias
Agora 
Já leste
Já sabes
E já és 

domingo, 11 de fevereiro de 2024

Montaigne

Falar com a própria voz e não com uma repetição enciclopédica de citações.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Harari

Pela primeira vez na história, doenças infecciosas matam menos que idade avançada, fome mata menos que obesidade e violência mata menos que acidentes. 

21 lições para o século XXI